26 de outubro de 2013

Choques

Assusta-me saber que não conheço de todo as pessoas com quem me rodeio diariamente

Quando nos Apaixonamos

"Quando nos apaixonamos, ou estamos prestes a apaixonar-nos, qualquer coisinha que essa pessoa faz – se nos toca na mão ou diz que foi bom ver-nos, sem nós sabermos sequer se é verdade ou se quer dizer alguma coisa — ela levanta-nos pela alma e põe-nos a cabeça a voar, tonta de tão feliz e feliz de tão tonta. E, logo no momento seguinte, larga-nos a mão, vira a cara e espezinha-nos o coração, matando a vida e o mundo e o mundo e a vida que tínhamos imaginado para os dois. Lembro-me, quando comecei a apaixonar-me pela Maria João, da exaltação e do desespero que traziam essas importantíssimas banalidades. Lembro-me porque ainda agora as senti. Não faz sentido dizer que estou apaixonado por ela há quinze anos. Ou ontem. Ainda estou a apaixonar-me. 

Gosto mais de estar com ela a fazer as coisas mais chatas do mundo do que estar sozinho ou com qualquer outra pessoa a fazer as coisas mais divertidas. As coisas continuam a ser chatas mas é estar com ela que é divertido. Não importa onde se está ou o que se está a fazer. O que importa é estar com ela. O amor nunca fica resolvido nem se alcança. Cada pormenor é dramático. De cada um tudo depende. Não é qualquer gesto que pode ser romântico ou trágico. Todos os gestos são. Sempre. É esse o medo. É essa a novidade. É assim o amor. Nunca podemos contar com ele. É por isso que nos apaixonamos por quem nos apaixonamos. Porque é uma grande, bendita distracção vivermos assim. Com tanta sorte. "

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (14 Fev 2012)

É mesmo


Sorri





"Não sei se ainda sou feliz, ou se vou ficando por aqui na esperança de a ver feliz. De qualquer das formas vou hipotecando a minha felicidade para a ver sorrir."

25 de outubro de 2013

Amar é transformar uma sucessão de nadas em tudo


Num qualquer dia de Outono sentado numa qualquer esplanada de um qualquer café da Baixa de Lisboa e tendo como fundo os violinistas de rua, explicar-te-ei ao som da sua melodia todas as cartas que te escrevi mas que nunca quiseste ver, ler ou sentir. Contar-te a sensação de cada toque, cada abraço, cada beijo, ensinar-te a ouvir-me e ler-me nas entrelinhas mesmo sem nada dizer ou escrever, entender por fim tudo aquilo que em ti tentei perceber mas que não esclareci, mostrar-te tudo aquilo que nunca viste que fomos sem saber.
Quero agora saber o que pensaste enquanto vias a chuva bater no vidro e o lugar do sofá vazio, quero entender o porquê de não me teres ligado, de não teres escrito uma carta com as tuas loucuras mais incompreendidas, quero saber o porquê de deixar-mos tudo ir quando havia tanto ainda para vir. 
Ao longo dos anos fui desvendando o segredo que nunca quiseste voltar a entender, talvez eu também não tivesse entendido que era o adeus e não um até já, talvez nunca mais nos cruzemos e que não voltemos a tomar a bica, talvez nos tenha enganado quando pensei que nada é para sempre, talvez tudo tenha sido só um sonho e amanhã acorde contigo, como antes.
Ainda és tu, mesmo sem que o saibas.

"Bastava que ela me dissesse: vamos. E eu iria. Não sei para onde. Não imagino para onde. Mas iria. Feliz como nunca. Feliz como estou feliz sempre que estou com ela. Vamos, diria ela, nos meus sonhos mais utópicos. E eu iria. Mas não vou. Ela não diz. Ela não diz nada e eu vou aguentando esta sucessão de nadas que tento transformar em tudo. 
Amar é transformar uma sucessão de nadas em tudo."

"In Sexus Veritas", de Pedro Chagas Freitas

24 de outubro de 2013

Águas claras com lodo no fundo

"Nem sempre uma linda cara
Traduz encanto no mundo
Há mil fontes de água clara
Cheias de lodo no fundo."

21 de outubro de 2013

Da próxima vez


"Da próxima vez, vou estar atento à tua fisgada
Encruzilhar-me na tua bancada
Ficar num canto e não me mexer

Mais uma vez, vou seguir todos os teus caminhos
Fugir fingindo que me vês sorrindo
P'ra te fitar quando eu puder

Quero ser, personagem de banda desenhada
Onde me assumo numa cena errada
E em que todos me vão descobrir

Quero ficar um pouco mais dentro do teu casulo
Faço de conta, que sou teu e tu és meu assumo
Onde me entrego e tu te das a conhecer

Que ninguem vá, onde vou
Nunca estás, onde estou
Que ninguém fale, de quem falou
Nunca digas quem eu sou

Da próxima vez vou querer toda a tua atenção
Vou esperar que me estendas a mão
E que me deixes cair a seguir

Mais que uma vez puseste à prova o teu sexto sentido
Depois dás o dito por não dito
Como eu gostava de te compreender ...

Quero ser, a solução do teu problema
Participando nesse mesmo esquema
Que só tu sabes entender

Queria ter, só um pouco desse teu talento
Tiro as vogais e ponho os acentos
Estou preparado pro que der e vier

Que ninguem vá, onde vou
Nunca estás, onde estou
Que ninguém fale, de quem falou
Nunca digas quem eu sou"

9 de outubro de 2013

Cada vez mais




"Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros.
Apreciem cada momento.
Agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer."
António Feio

7 de outubro de 2013

Nunca te esqueças das palavras que nunca te direi


Chega o tempo em que te lembras de histórias, sonhas memórias, brincas com as palavras procurando esconder o que o coração quer dizer. Não são tempos melancólicos, são gestos delicados, sorrisos que parecem tocar, que não te cabem nas mãos. Sorrisos escondidos, não de saudade, são intensos momentos de desejo guardado. Guardo comigo um primeiro beijo, sem nunca tu dizer fui gravando cada cheiro do teu corpo, cada luz do teu rosto, cada palavra ao ouvido, cada silencio desmedido. Lamento guardar-te sem o saberes, seres minha sem me teres, errei muito, errei contigo, errámos juntos. Fomos as crianças mais amadas, fomos os lugares marcados, fomos as palavras de Shakespeare em diversas noites enluaradas, nós fomos e somos tudo mesmo não sendo nada. De tudo o que vivemos e sonhámos só te peço: "nunca te esqueças das palavras que nunca te direi".