22 de junho de 2014

O que espero do meu verão deste ano



"Estou bem, neste momento estou em Luxemburgo na parte de trás da carrinha de um romeno que conheci na segunda- feira á boleia ao longo da Europa. Tenho aprendido imenso, todos os dias são uma aventura. Vou ser sincero com vocês, só tenho mesmo só dez euros comigo, e não nego as dificuldades que isso acarreta, mas a verdade é que nuca fui tão feliz como quando decidi largar tudo para respirar fundo pela primeira vez. Não aguentava a vida que estava a levar. Para mim já não chegava trabalhar para pagar contas, sentia-me a ficar como que preso. Tinha que sair disso, dessa rotina empobrecedora de espírito. Não se preocupem, vocês criarão um rapaz desenrascado, não passo fome, tenho abrigo, nunca estive tão feliz, tenho conhecido pessoas espectaculares ao longo desta viagem que não sei quanto tempo vai durar. Só estou a tentar APROVEITAR O MÁXIMO do que a vida me pode dar. Prometo que se me sentir realmente em perigo que regresso de seguida. Obrigado por serem as pessoas que são, o que só por si já vale tanto. Obrigado, são o meu orgulho e quero que todos o saibam."

fonte: https://www.facebook.com/impossibletrip

13 de junho de 2014

Lembro-me que no principio era bola

Lembro-me de jogar descalço na primária, de estragar ténis e roupa com esta paixão sem motivo, lembro-me de quando era puto e apanhava autocarros para ir treinar, dos meus pais não assistirem aos meus jogos porque tinham de ir trabalhar, de sair antes do fim das aulas porque o treino começava mais cedo, de ir jogar na brincadeira depois dos jogos oficiais para um campo de hoquei, lembro-me de bolas que se perdiam no meio dos arbustos, das que saíam da escola, das que os funcionários confiscavam, lembro-me de jogar contra mais velhos e rivais só pelo gozo, de jogar inter-turmas como se fosse a liga dos campeões, de que o primeiro a sair da sala levava a bola e corria para ocupar o campo, lembro-me de queimar as calças do equipamento do clube nesses mesmos jogos, de não saber com quem ia jogar, em que lugar estava, quem mais golos marcava, lembro-me de só existir um campo sintético, lembro-me das feridas feitas em asfalto e pelados, dos carrinhos feitos nesses mesmos pelados para evitar ataques das outras equipas, de não perceber regras do futebol, de jogar futebol sem regras, de não saber mais do que cortar e aliviar, lembro-me de ser expulso de terrenos públicos pela polícia por estar a jogar à bola, de que os vizinhos não gostavam que a porta da garagem fosse uma baliza, de que o gordo ia à baliza, que quem era dono da bola ganhava e decidia quando o jogo acabava, de quando o GR não saltasse era golo porque se saltasse chegava lá, lembro-me de não haver idades para jogar mas que os mais velhos tinham prioridade no campo, lembro-me do futebol não ser apenas dinheiro e os putos um negócio .



"Gostavas de futebol porque era parecido com a verdade. Mesmo com árbitros comprados. Ou notas correndo em rios gordurosos debaixo das mesas de fiscais, empresários, advogados. Mesmo quando se tornou um negócio. Os maus e os bons, os puros e os impuros; sim, o correr das notas tornava as distinções mais árduas. Mas o sol sobre o relvado decidia tudo - as pernas dos homens correndo atrás da bola da verdade.
Vê-se tão bem quem joga com tudo o que é e quem joga só com o corpo, dizias tu. Porque é que a vida não é transparente como um jogo de futebol?" 
Inês Pedrosa