17 de maio de 2013

Um tudo de nada


Num ingénuo fechar dos olhos como em outro qualquer dia, carregas toda a mágoa de uma vida, mas não és só mágoa, és ingenuidade, és família. O que terias feito sabendo que era o último?
É estranho, sabes? Saber que amanhã vou acordar sem que exista a possibilidade de contacto contigo, parece algo irreal, não que o fizesse se fosse outro qualquer amanhã, mas... é como se te tivessem apagado do mundo simplesmente. Não é hora de julgamentos, de arrependimentos ou admirações, é hora de sentir a dor dos que partem e jamais voltam, é hora de reflectir se realmente o que faço, faço porque quero, sinto e imagino isso para mim. Não te condeno, não mesmo e jamais agora, fica apenas a leve mágoa da vida que escolheste e da forma como ela tratou de ti e dos que te rodeavam. Lembro-me de brincadeiras de criança, lembro-me de gozos, sorrisos e choros. Nunca levaste a vida a sério e ela acabou mesmo por brincar contigo, fintou-te, gozou-te e resumiu-te a lembranças do que foste, não é tão pouco? Não me imagino ser lembrança, sabes? É como se fossemos aquele postal da cidade que acabámos de visitar, bonito, com conteúdo infinitamente bem valorizado mas que no fundo de pouco vale, porque lá não estão os sorrisos, as contemplações de conversas ao acaso e sobre nada em concreto. 
Nunca te contei, (é triste, ia dizer que não tive oportunidade, mas de que oportunidades precisamos para ver alguém que nos pertence?) sou ateu. Sim, isso mesmo, para mim Deus não tem qualquer relevância e como tal a morte é encarada unicamente como o processo de tudo a nada, não acredito que estarás a olhar por quem quer que seja, acredito que és tão somente o nada que me preenche o peito agora, que és o nada dos que choram e por quem choram. Desculpa escrever-te sem acreditar que existas, desculpa não ter criado a oportunidade de te o dizer e de sorrir um pouco mais contigo, mas a vida leva-nos mesmo a isto, corremos mais que os ponteiros de relógio e ainda assim chegamos sempre atrasados. Não contes comigo para chorar  a tua morte, não sinto necessidade de chorar, não me tocou assim tanto, espero que entendas os meus silêncios e conformismo. Terás paz e darás paz sendo tu um pequeno nada pensado como tudo. Obrigado Tio.

Sem comentários:

Enviar um comentário