25 de outubro de 2013

Amar é transformar uma sucessão de nadas em tudo


Num qualquer dia de Outono sentado numa qualquer esplanada de um qualquer café da Baixa de Lisboa e tendo como fundo os violinistas de rua, explicar-te-ei ao som da sua melodia todas as cartas que te escrevi mas que nunca quiseste ver, ler ou sentir. Contar-te a sensação de cada toque, cada abraço, cada beijo, ensinar-te a ouvir-me e ler-me nas entrelinhas mesmo sem nada dizer ou escrever, entender por fim tudo aquilo que em ti tentei perceber mas que não esclareci, mostrar-te tudo aquilo que nunca viste que fomos sem saber.
Quero agora saber o que pensaste enquanto vias a chuva bater no vidro e o lugar do sofá vazio, quero entender o porquê de não me teres ligado, de não teres escrito uma carta com as tuas loucuras mais incompreendidas, quero saber o porquê de deixar-mos tudo ir quando havia tanto ainda para vir. 
Ao longo dos anos fui desvendando o segredo que nunca quiseste voltar a entender, talvez eu também não tivesse entendido que era o adeus e não um até já, talvez nunca mais nos cruzemos e que não voltemos a tomar a bica, talvez nos tenha enganado quando pensei que nada é para sempre, talvez tudo tenha sido só um sonho e amanhã acorde contigo, como antes.
Ainda és tu, mesmo sem que o saibas.

"Bastava que ela me dissesse: vamos. E eu iria. Não sei para onde. Não imagino para onde. Mas iria. Feliz como nunca. Feliz como estou feliz sempre que estou com ela. Vamos, diria ela, nos meus sonhos mais utópicos. E eu iria. Mas não vou. Ela não diz. Ela não diz nada e eu vou aguentando esta sucessão de nadas que tento transformar em tudo. 
Amar é transformar uma sucessão de nadas em tudo."

"In Sexus Veritas", de Pedro Chagas Freitas

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